Leite de vaca está no topo da lista de alimentos envolvidos em reações alérgicas apresentadas por bebês e crianças pequenas.
Como o próprio título deste texto já diz, a alergia ocorre contra uma ou mais proteínas presentes no leite de vaca. O que é bem diferente da intolerância à lactose, que seria uma reação provocada pelo açúcar (ou carboidrato) naturalmente presente no leite.
SINTOMAS DE APLV
Os sintomas de APLV podem variar de pessoa para pessoa. Assim como na alergia a outros alimentos, as reações podem ser de três tipos:
1. mediadas por IgE;
2. não mediadas por IgE;
3. mistas.
Para conhecer melhor cada uma dessas reações leia o artigo “Sintomas de Alergia Alimentar” publicado aqui neste blog.
APLV no bebê em aleitamento materno exclusivo
Quando a APLV ocorre em bebês que estão em aleitamento materno exclusivo, o sintoma mais comumente observado é sangue nas fezes, podendo ou não ser acompanhado por muco e diarreia.
Esse tipo de manifestação alérgica é chamado de “Proctocolite Induzida por Proteína Alimentar”.
A parte do corpo afetada é o intestino grosso, por isso nesse tipo de alergia o bebê costuma ganhar peso e crescer normalmente, além de não correr risco de apresentar sintomas graves.
Outro ponto positivo a ser destacado é que a proctocolite geralmente se resolve antes dos 12 meses de idade.
Bebês que estão em aleitamento materno exclusivo podem apresentar ainda outros sintomas de APLV, tais como: eczema e coceira na pele de bebês com dermatite atópica; refluxo gastroesofágico, cólica e irritabilidade importantes e, mais raramente, baixo ganho de peso.
Reações anafiláticas e reações de FPIES (síndrome da enterocolite induzida por proteína alimentar) geralmente não ocorrem em bebês que só recebem leite materno.
APLV em bebês que usam fórmula infantil
Quando o bebê consome fórmula infantil à base de leite de vaca e apresenta alergia alimentar diferentes sintomas podem ser observados.
Cólica, irritabilidade, distensão abdominal, diarreia, sangue nas fezes, muco nas fezes, constipação, refluxo gastroesofágico, recusa alimentar e baixo ganho de peso são alguns dos sintomas observados em bebês que apresentam reações alérgicas não mediadas por IgE. Esses sintomas podem aparecer até alguns dias após o consumo da fórmula e podem se tornar crônicos.
Com o consumo de fórmulas infantis contendo proteínas do leite de vaca alguns bebês com Dermatite Atópica podem apresentar piora dos episódios de eczema e coceira na pele.
Outros bebês podem apresentar sintomas mediados por IgE, que ocorrem até duas horas após o consumo da fórmula infantil, podendo variar desde sintomas leves como vermelhidão da pele, até sintomas mais graves como a anafilaxia.
Há ainda os casos de bebês que apresentam FPIES, com sintomas de vômitos e diarreia que podem ser graves quando a doença é apresentada em sua forma aguda.
APLV em crianças
Muitos dos sintomas gastrointestinais de APLV não mediada por IgE citados anteriormente não costumam ser observados em crianças mais velhas, pois conforme o intestino e o sistema imunológico delas vão amadurecendo a maioria delas passa a tolerar o leite de vaca normalmente.
Por outro lado, em bebês que apresentam reações IgE mediadas, reações de FPIES, Dermatite Atópica e Esofagite Eosinofílica, a APLV costuma ser mais persistente e os sintomas continuam sendo observados em crianças mais velhas ou até mesmo em adolescentes.
Já na fase adulta os sintomas de APLV são mais raros.
DIAGNÓSTICO DA APLV
Para todos os tipos de reações mencionadas, a melhor forma de se fazer o diagnóstico é ouvindo a história clínica e verificando se os sintomas são ou não característicos de alergia alimentar.
Quando há suspeita de APLV o primeiro passo é retirar completamente a proteína do leite de vaca da dieta por cerca de 2 a 4 semanas. Em alguns casos pode ser necessário um tempo maior.
O objetivo durante essa fase é observar se os sintomas irão sumir, ou pelo menos melhorar, na ausência do leite de vaca.
Após esse período é feita a reintrodução do leite na alimentação, para que se observe se os sintomas irão reaparecer ou piorar.
É claro que essa reexposição pode trazer muitos riscos para o paciente, por isso todo esse processo deve ser feito sob orientação de um médico e geralmente na sua presença, em ambiente adequado, contando com todos os medicamentos e equipamentos necessários para tratar possíveis reações. Esse processo é chamado de Teste de Provocação Oral (TPO).
Considerando os riscos do TPO, nos casos em que o paciente tem história de reações anafiláticas e apresenta exames de sangue ou testes cutâneos que apontem positividade para a alergia ao leite de vaca, o médico pode optar por não fazer a reexposição ao alimento para estabelecer o diagnóstico de APLV.
TRATAMENTO DA APLV
Uma vez estabelecido o diagnóstico o tratamento passa ser baseado na exclusão do leite de vaca na dieta. Sendo assim o paciente não pode consumir nada que possa conter proteínas do leite.
Para os bebês, o aleitamento materno deve ser estimulado e nos casos em que o bebê apresenta reação ao que a mãe consome, ela deve seguir a dieta de restrição.
Quando o aleitamento materno não puder ser mantido ou precisar ser complementado, um profissional de saúde deverá indicar a fórmula infantil mais adequada.
Para correta restrição dietética, a leitura dos rótulos dos alimentos industrializados é fundamental para verificar se há algum ingrediente que possa conter leite. Além dos rótulos dos alimentos, é importante que seja observada a composição dos medicamentos e produtos de higiene pessoal (sabonetes, hidratantes, entre outros). Tudo o que tiver leite ou derivados precisa ser evitado.
Leite de outros mamíferos não podem ser utilizados como substitutos, assim como alimentos que são isentos de lactose, mas que contêm proteínas do leite.
Avaliação e acompanhamento nutricional são importantes para correta orientação e adequação da dieta.
AQUISIÇÃO DE TOLERÂNCIA AO LEITE
A APLV é uma alergia alimentar típica da infância, pois a maioria dos pacientes adquire tolerância com o passar do tempo.
Conforme o tipo de reação apresentada essa tolerância pode acontecer mais cedo ou mais tarde.
Para verificar se o paciente já pode ou não tolerar o leite, a reexposição ao alimento deve ser feita na presença do médico, em ambiente adequado. Ou seja, deve ser realizado um TPO para avaliação da tolerância.
Essa mesma recomendação serve para quando se deseja avaliar se o paciente é capaz de tolerar o leite de vaca presente em preparações assados, tais como bolos, pães e biscoitos.
Os únicos casos em que a observação médica pode ser dispensada seriam aqueles em que a reexposição é feita através da dieta da mãe que irá amamentar o bebê que apresentava APLV via leite materno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como as demais alergias alimentares, a APLV não é sempre igual. Cada pessoa pode apresentar um tipo de reação, ainda que alimento envolvido seja o mesmo. Conforme o tipo de manifestação clínica, a APLV pode demorar mais tempo ou menos tempo para se resolver, os sintomas podem ser mais graves ou mais leves e a forma como tratar os sintomas em casos de exposição acidental também pode variar. Por isso, nenhuma informação encontrada na Internet ou trocada em grupos de leigos é capaz de substituir a avaliação e orientação profissional individualizada.